O Auto da Barca do Inferno
O
Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente: Quando uma obra começa com a palavra
“Auto”, podemos entender que se trata de uma designação genérica para peça,
pequena representação teatral. 
Por
se tratar de uma obra escrita entre a Idade Média para a Idade moderna,  vemos que 
aparecem os valores morais das duas épocas: Sendo Deus uma
característica medieval, e existe também uma crítica a sociedade da época. 
A
história então, fala sobre o juízo  final
segundo o catolicismo. Cada um era julgado segundo seu comportamento em vida. 
Primeiro
chega o fidalgo. Representa a nobreza e é condenado ao inferno por seus
pecados: tirania e luxúria.  Este,
julga-se merecedor do céu, pois haviam muitas pessoas rezando por ele. Só que
foi recusado pelo anjo, e se vê obrigado a embarcar na barca do inferno, e
ainda assim, tenta convencer o diabo a deixa-lo rever sua companheira, pois ela
sente muito a sua falta.  Logo, o diabo
acaba com seu bom sentimento e diz que ela o estaria enganando. 
Depois,
chega um agiota, que foi condenado por ganância e avareza. Em uma tentativa
frustrada de convencer o anjo a ir para o céu, ele tenta convencer o diabo de o
deixar voltar para pegar sua riqueza, mas também não conseguiu e acaba
embarcando.
O
terceiro indivíduo a chegar é um tolo, ingênuo conhecido como parvo.  O diabo logo tenta convencê-lo a embarcar,
mas quando parvo descobre qual é o destino dela, tenta falar com o anjo. Então,
o anjo o acolhe na barca que vai ao céu. 
O
sapateiro: Chega com todos os instrumentos de trabalho.  Enquanto estava vivo, enganou muitas pessoas,
e logo tenta enganar o diabo. Como não consegue, tenta o anjo, que o condena
como alguém que roubou do povo.
O
frade: Esse chega com a sua amante, e sente-se extremamente ofendido quando é
convidado pelo diabo a entrar na barca. Imaginou que, sendo um eclesiástico,
seria perdoado. Então descobriu que fora condenado ao inferno por falso
moralismo religioso.
Brísida
Vaz: Feiticeira e alcoviteira é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu bem
maior  são “seiscentos virgos postiços”
(Hímen, que representa a virgindade). Ela era uma espécie de cafetina, que
prostituia jovens virgens, e provavelmente enganou seiscentos homens, dizendo
que essas eram virgens. Tenta convencer o anjo, mas é inúil. Foi condenada por
prostituição e feitiçaria. 
Os
judeus e cristãos novos: Essa parte do livro nos faz refletir em preconceito
antissemita do autor. Vale lembrar que, naquela época muitos judeus  foram expulsos de Portugal, e os poucos que
ficaram, tiveram que se converter, sendo assim chamados de “cristãos novos”.
Então,
quando o judeu chegou, estava acompanhado por um bode. Vai até o diabo, e pede
para embarcar, mas o diabo recusa-se a 
levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, e este responde que não será
possível a entrada de um bode. Então, ele dirige-se ao anjo, e logo é impedido
por não aceitar o cristianismo. 
Representantes
do judiciário:  Chegam o corregador
(Magistrado) e o procurador, e trazem consigo livros e processos. Com isso,
começam a articular suas defesas e encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, os
anjos os impede de entrar, por terem sido condenados a barca do inferno por
manipularem a justiça em benefício próprio. 
Eles também, tem familiaridade com Brísida Vaz,  por que houve troca de serviços entre eles.
O
enforcado:  Este acredita na salvação
pois na vida, já foi julgado e enforcado. Mas foi condenado também por
corrupção. 
Os
quatro cavaleiros: Estes lutaram e morreram defendendo o cristianismo, portanto
foram recebidos pelo anjo imediatamente. 
Todos os
personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características
comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à
vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são
cristãos e puros. Você pode perceber que o mundo aqui ironizado pelo autor é
maniqueísta: o bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado.