segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Auto da Barca do Inferno


O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente: Quando uma obra começa com a palavra “Auto”, podemos entender que se trata de uma designação genérica para peça, pequena representação teatral.

Por se tratar de uma obra escrita entre a Idade Média para a Idade moderna,  vemos que  aparecem os valores morais das duas épocas: Sendo Deus uma característica medieval, e existe também uma crítica a sociedade da época.
A história então, fala sobre o juízo  final segundo o catolicismo. Cada um era julgado segundo seu comportamento em vida.
Primeiro chega o fidalgo. Representa a nobreza e é condenado ao inferno por seus pecados: tirania e luxúria.  Este, julga-se merecedor do céu, pois haviam muitas pessoas rezando por ele. Só que foi recusado pelo anjo, e se vê obrigado a embarcar na barca do inferno, e ainda assim, tenta convencer o diabo a deixa-lo rever sua companheira, pois ela sente muito a sua falta.  Logo, o diabo acaba com seu bom sentimento e diz que ela o estaria enganando.
Depois, chega um agiota, que foi condenado por ganância e avareza. Em uma tentativa frustrada de convencer o anjo a ir para o céu, ele tenta convencer o diabo de o deixar voltar para pegar sua riqueza, mas também não conseguiu e acaba embarcando.
O terceiro indivíduo a chegar é um tolo, ingênuo conhecido como parvo.  O diabo logo tenta convencê-lo a embarcar, mas quando parvo descobre qual é o destino dela, tenta falar com o anjo. Então, o anjo o acolhe na barca que vai ao céu.
O sapateiro: Chega com todos os instrumentos de trabalho.  Enquanto estava vivo, enganou muitas pessoas, e logo tenta enganar o diabo. Como não consegue, tenta o anjo, que o condena como alguém que roubou do povo.
O frade: Esse chega com a sua amante, e sente-se extremamente ofendido quando é convidado pelo diabo a entrar na barca. Imaginou que, sendo um eclesiástico, seria perdoado. Então descobriu que fora condenado ao inferno por falso moralismo religioso.
Brísida Vaz: Feiticeira e alcoviteira é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu bem maior  são “seiscentos virgos postiços” (Hímen, que representa a virgindade). Ela era uma espécie de cafetina, que prostituia jovens virgens, e provavelmente enganou seiscentos homens, dizendo que essas eram virgens. Tenta convencer o anjo, mas é inúil. Foi condenada por prostituição e feitiçaria.
Os judeus e cristãos novos: Essa parte do livro nos faz refletir em preconceito antissemita do autor. Vale lembrar que, naquela época muitos judeus  foram expulsos de Portugal, e os poucos que ficaram, tiveram que se converter, sendo assim chamados de “cristãos novos”.
Então, quando o judeu chegou, estava acompanhado por um bode. Vai até o diabo, e pede para embarcar, mas o diabo recusa-se a  levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, e este responde que não será possível a entrada de um bode. Então, ele dirige-se ao anjo, e logo é impedido por não aceitar o cristianismo.
Representantes do judiciário:  Chegam o corregador (Magistrado) e o procurador, e trazem consigo livros e processos. Com isso, começam a articular suas defesas e encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, os anjos os impede de entrar, por terem sido condenados a barca do inferno por manipularem a justiça em benefício próprio.  Eles também, tem familiaridade com Brísida Vaz,  por que houve troca de serviços entre eles.
O enforcado:  Este acredita na salvação pois na vida, já foi julgado e enforcado. Mas foi condenado também por corrupção.
Os quatro cavaleiros: Estes lutaram e morreram defendendo o cristianismo, portanto foram recebidos pelo anjo imediatamente.

Todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. Você pode perceber que o mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado.







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