No fim do século XIX, os escritores realistas determinam o fim das idealizações românticas e anunciam um complexo mundo de relações sociais arquitetadas pelas aparências e pelos jogos de interesse. Objetividade, verossimilhança e fidedignidade eram, ao mesmo tempo, as buscas e os instrumentos daqueles escritores que entendiam a literatura como ambiente de observação, reflexão e debate a cerca da vida e do mundo. Os contos e romances deveriam abrigar os pensamentos filosóficos e, para tanto, desenvolver estratégias que diminuíssem ao máximo as situações irrealistas típicas dos romances românticos que predominavam durante aquele século. As propostas de representação fiel do mundo se unem à concepção do artista como um observador que concentra o olhar sobre os menores detalhes do objeto que descreve de maneira semelhante ao rigor com que um cientista analisa sua matéria de estudo.
Contexto Histórico
Fatos importantes
1871 - Início do Realismo em Portugal
1881 - Início do Realismo no Brasil
1889 - Proclamação da República no Brasil
1914 - Início da I Guerra Mundial
1915 - Fim do Realismo em Portugal
1922 - Fim do Realismo no Brasil
O movimento se desenvolve durante a segunda fase da revolução Industrial (a partir de 1870) e diversas obras do período apresentam, como protagonistas, indivíduos pertencentes ao prolitarietado urbano. A realidade dos operários e dos demais setores marginalizados da população é tratada à luz das teorias sociológicas emergentes, além disso, as personagens ganham personalidades mais complexas, se comparadas às personagens mais românticas a partir de certa densidade psicológica desenvolvida pelos escritores. Em um mundo marcado por divisões econômicas, as fronteiras entre o social e o psicológico quase sempre determinam o jogo realista de "aparências versus essência".
Muitas vezes, os textos realistas servem como instrumentos de denúncia das desigualdades sociais e ocorrem ataques contundentes ao clero e ao conservadorismo da Igreja Católica.
A burguesia também é criticada por transformar as relações sociais e os próprios indivíduos em simples mercadoria (na medida em que esses vendem sua força de trabalho). O capitalismo torna-se um dos alvos centrais das obras literárias do período.
O movimento procura atender às necessidades impostas pelo novo contexto histórico-cultural, através do combate a toda forma romântica e idealizada de ver a realidade, a crítica a sociedade e a falsidade de seus valores e intituições (Estado, Igreja, casamento e família).
Características
Objetivismo; Descrições e adjetivações objetivas; Linguagem culta e direta; Mulher não idealizada;  Amor e outros interesses subordinados aos interesses sociais; Herói problemático; Narrativa lenta, tempo psicológico; Personagens trabalhados psicologicamente.
Autores
Dentre muitos, destacamos José Maria de Eça de Queiroz, autor que, como nenhum outro, conseguiu trabalhar a temática realista e é considerado o maior romancista português de todo o século XIX.
Nasceu em Póvoa do Varzim 1845, passou a infância e juventude longe dos pais, pois estes não eram casados, estudou direito na Universidade de Coimbra. Ligou-se por essa ocasião ao grupo renovador chamado “Escola de Coimbra”, responsável pela introdução do Realismo em Portugal.
Dedicou-se ao jornalismo depois de formado, e viajou pelo Oriente. Em 1871, participou das“Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense” –
É o representante maior da prosa realista em Portugal. Grande renovador do romance, abandonou a linha romântica e estabeleceu uma visão critica da realidade.
Morreu no dia 16 de Agosto de 1900 em Paris. Deixou um episódio literário que veio a ser publicado aos poucos.
Obras
O Crime do Padre Amaro , 1876. Segunda edição refundida , 1880.
O Primo Basílio , 1878.
O Mandarim , 1880.
A Relíquia , 1887.
Os Maias , 1888.
Uma Campanha Alegre , 1890 e 1891.
A Ilustre Casa de Ramires , 1900.
Correspondência de Fradique Mendes , 1900.
Dicionário de Milagres , 1900.
A Cidade e as Serras , 1901.
Contos , 1902.
Prosas Bárbaras , 1903.
Cartas de Inglaterra , 1905.
Ecos de Paris , 1905.
Cartas Familiares e Bilhetes de Paris (1893 – 1896) , 1907.
Notas Contemporâneas , 1909.
A Capital , 1925.
O Conde de Abranhos e A Catástrofe , 1925.
Correspondência , 1925.
Alves & Cia , 1926.
O Egito , 1926.
Cartas Inéditas de Fradique Mendes e Mais Páginas Esquecidas , 1929.
Novas Cartas Inéditas de Eça de Queiróz , 1940.
Crônicas de Londres , 1944.
Cartas de Lisboa , Correspondência do Reino , 1944.
Cartas de Eça de Queiróz , 1945.
A Tragédia da Rua das Flores , 1980.
Resumo e Análise da Obra "O Crime do Padre Amaro" de Eça de Queiroz
O Crime do Padre Amaro foi publicado em 1875, porém sua edição definitiva só foi publicada em 1880. Primeiro romance de Eça de Queiroz, com esse, ele também inaugura, na prosa, a estética do realismo-naturalismo em Portugal. A obra caracteriza-se pelo combate ao idealismo romântico que se estabelecia até então, em prol de uma visão mais crítica da sociedade.
Nesta época a sociedade ocidental estava passando por grandes mudanças, o racionalismo  passava a ser o carro chefe em diversas áreas, como na ciência, política e as artes. Problemas sociais passam a ser discutidos e são temas de grandes obras literárias.
Nessa obra, o autor retrata a vida clerical, expõe como alguns padres podem ser corruptos e favorecer a elite em cima da população mais carente, a questão do celibato, a sexualidade é vista como uma coisa mais carnal, o homem controla os seus impulsos devido ao que a sociedade propõe o moralismo, mas a essência é instintiva, e acaba por agir pelos impulsos naturais.
Enredo
Após perder os pais, que serviram à marquesa de Alegros, Amaro cai nas graças da mulher, que o toma como agregado, planejando criá-lo para o sacerdócio. Isso acaba se efetivando, apesar da ausência de vocação e de interesse do jovem, que, desde cedo, possuía uma índole libidinosa. Triste e resignado, Amaro se ordena padre, sempre tentando conter os fortes impulsos sexuais que sente.
Embora temesse a Deus e fosse devoto, odeia a vida eclesiástica que lhe fora imposta. Depois de exercer seu ofício em uma província interiorana, consegue, por influência da condessa de Ribamar – filha de sua protetora, a marquesa –, mudar-se para Leiria.
O fato que desencadeia a ofensiva de Amaro sobre Amélia é algo que o jovem padre presencia: certo dia, ao chegar à residência da senhora Joaneira, encontra-a na cama com o cônego Dias. A partir daí, apesar de ter mudado de casa, Amaro vai perdendo os escrúpulos e se deixa levar pela atração sexual, seguindo o exemplo de seu antigo mestre.
João Eduardo, enciumado, publica anonimamente no jornal local um artigo em que denuncia a imoralidade de alguns padres de Leiria, especialmente de Amaro. Esse fica indignado e passa a evitar Amélia — pensa até mesmo em abandonar o sacerdócio. No entanto, os padres descobrem o autor do texto polêmico e levam João Eduardo a deixar a cidade.
É nesse momento que, no auge do desejo, Amaro e Amélia trocam o primeiro beijo. Para facilitar a sedução, Amaro se torna o confessor de Amélia, o que revolta João Eduardo, levando-o a dar um soco no pároco na rua. Após retirar a queixa contra seu agressor e ser visto como um santo pelas beatas (entre as quais Amélia), Amaro conduz a jovem para seu quarto e os dois têm a primeira relação sexual.
A nova criada do padre, Dionísia, alerta para o perigo dessa exposição e lhe recomenda que ache um local secreto para os encontros amorosos. A solução é a casa do sineiro da igreja, o Tio Esguelhas, deficiente que vive com uma filha, Antônia, a Totó. A desculpa para os encontros é a preparação de Amélia para se tornar freira e também ler textos religiosos a Totó.
O fascínio que Amaro exerce sobre Amélia é cada vez maior, até que ela começa a ter crises de consciência. A pedido da senhora Joaneira, o cônego Dias investiga o caso e fica sabendo, por meio de Totó, o que ocorria entre seu pupilo e a moça. Após uma discussão e trocas de acusações entre os dois, porém, o cônego e o padre passam a se tratar como sogro e genro.
Amélia então engravida o que leva Amaro ao desespero. Com o cônego Dias, decidem casá-la com João Eduardo quanto antes. Ela se revolta com a ideia, mas acaba aceitando, o que faz com que o padre amante sinta ciúme. Para consolá-lo, decidem, então, continuar os encontros amorosos após o casamento.
O ex-noivo de Amélia, contudo, não é encontrado, o que os leva a buscar outra solução, já que fica cada vez mais difícil ocultar a gravidez. A histeria da moça aumenta, até que optam por enviá-la ao subúrbio para cuidar de dona Josefa, beata enferma irmã do cônego, enquanto os outros passam uma temporada na praia.
Entristecida por se separar da mãe e pelo abandono de Amaro, que permanece em Leiria, Amélia fica angustiada e entra em profunda crise. A situação é agravada pela censura de dona Josefa. A jovem encontra consolo então no bom abade Ferrão, um dos poucos personagens apresentados como íntegros na narrativa. Ele ouve a confissão de Amélia e a aconselha a superar a atração que ainda sente pelo padre. Amaro, ao saber disso, cego de desejo e ciúme, procura mais uma vez Amélia, que não resiste e se entrega novamente. O abade, por outro lado, tenta inutilmente unir a moça com o reaparecido João Eduardo, ainda apaixonado por ela.
O momento do parto se aproxima, e Amaro é aconselhado por Dionísia a enviar o bebê a uma“tecedeira de anjos”, mulher que mata recém-nascidos indesejados. Nasce a criança, que o pai leva à ama encarregada de fazer com que desapareça, em troca de pagamento.
Amélia não resiste e, pouco tempo depois, sofre de convulsões e morre. Amaro, triste por causa da morte da amante, tenta recuperar o filho, mas é tarde. A criança já havia sido morta. Traumatizado, ele sai de Leiria e é transferido. Em Lisboa, buscando de novo a ajuda do conde de Ribamar, reencontra o cônego Dias. Ambos concluem que o remorso sentido pelo caso havia sido superado. Afinal, “tudo passa”.
Conclusão
Os autores do realismo escreviam sobre a realidade de um mundo com seus problemas cotidianos, mostrando a vida como ela é,  fazendo uma sondagem da alma humana, apresentando personagens com seus defeitos e um mundo onde o capitalismo impera, além de críticas e denúncias dos problemas sociais como, por exemplo, miséria, pobreza, exploração, corrupção, adultério, entre outros  Estavam preocupados em mostrar o que há por trás  da ficção e da fantasia, deixando para trás todo o idealismo romântico e sonhador.
Referências Bibliográficas
QUEIRÓS, Eça. O crime do Padre Amaro. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

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